O setor privado deve atuar em sintonia com o poder público para apontar tendências e atender às novas demandas 2e6j2c
19 fevereiro, 2025 - 05h00
O debate econômico em torno de juros básicos, agenda fiscal e PIB busca resolver um déficit relevante, além de lidar com um Orçamento público engessado e um crescimento em boa direção, porém limitado. É uma discussão importante. Contudo outros fatores igualmente decisivos para o futuro do Brasil não recebem a devida atenção: a educação e a capacitação da mão de obra.
A qualidade e a disponibilidade da nossa mão de obra não sustentarão um crescimento robusto e continuado. Novos investimentos enfrentam dificuldades para contratar profissionais habilitados. Algumas especialidades técnicas essenciais chegam a ser mais bem remuneradas que carreiras de nível superior, não pela complexidade, mas pela falta de profissionais capacitados.
A produtividade é outro desafio. Segundo o ranking da Organização Internacional do Trabalho de 2023, o Brasil ocupa a 95ª posição entre 189 países em PIB por hora trabalhada. O profissional brasileiro gera, em média, US$ 17 por hora, menos que Argentina (US$ 27), México (US$ 20) e Chile (US$ 29), países em estágio de desenvolvimento semelhante.
Felizmente há esforços para mudar esse cenário. O Sistema S, entidades de classe, ONGs, iniciativa privada e governos específicos têm atuado na capacitação profissional. Em Mato Grosso do Sul, Sesi e Senai se juntaram à Suzano para treinar trabalhadores em Ribas do Rio Pardo, onde investimos mais de R$ 20 bilhões na maior linha única de produção de celulose do mundo.
No mesmo município, com pouco mais de 20 mil habitantes e localizado a cerca de 100 quilômetros de Campo Grande, está em construção um Centro Integrado Sesi Senai. Com previsão de estar pronto neste ano, atenderá a mais de 2,1 mil alunos(as), da educação básica ao ensino profissionalizante, formando talentos para o futuro da região.
Capacitar brasileiros e brasileiras para a nova realidade profissional torna-se ainda mais desafiador diante da crescente demanda por qualificações avançadas. Inteligência artificial, automação e digitalização são competências que se expandem em todos os setores. A disponibilidade de mão de obra capacitada será fator cada vez mais determinante para a competitividade.
Países que buscam ser referência em mão de obra qualificada têm mitigado a escassez investindo na formação e atração de talentos estrangeiros. O Brasil, com uma população numerosa, pode e deve aprimorar sua formação.
Embora o desemprego esteja baixo, a informalidade segue alta: são mais de 40 milhões de pessoas nessas condições, segundo o IBGE. Além disso, há 54 milhões de beneficiários do Bolsa Família, muitos sem emprego formal. É um número expressivo, que deve ser olhado com atenção, pois, no curto prazo, é possível requalificar e recolocar parcela dessa mão de obra, reduzindo a informalidade e tornando os programas sociais um trampolim para novas oportunidades.
Aprimorar a educação básica, introduzindo habilidades necessárias à nova realidade tecnológica, também é crucial. O setor privado deve atuar em sintonia com o poder público para apontar tendências e atender às novas demandas.
Apesar dos avanços pontuais, o Brasil segue estagnado na formação de jovens. No Pisa, aparecemos nas últimas posições entre 81 países, com avanços mínimos entre 2018 e 2022. Em matemática, amos da 71ª para a 65ª posição; em leitura, da 57ª para a 52ª; e em ciências, da 64ª para a 62ª.
Estamos há anos nessa condição, sem tração no ritmo necessário e correndo o risco de ficarmos para trás na corrida tecnológica e econômica. Acelerar novas diretrizes, políticas e investimentos voltados à educação e à capacitação é condição indispensável para que o Brasil seja mais inclusivo e menos desigual. O avanço tecnológico, diante da escassez de profissionais qualificados, é um alerta crítico para o crescimento do país.
*Beto Abreu é presidente da Suzano
(Publicado no O Globo em 04/02/2025)